The Lurker a conta gotas (ou de grão em grão o galinho enche o saco)
Faz tempo que existem posts que eu quero escrever. Algumas coisas que talvez sejam interessantes. Ou não. Então, vamos a três casos mais recentes...
1 - The Prince and the Beggar
Então, no lançamento daquele livro, entre intelectuais de algibeira, militantes wanabe do movimento estudantil e ministros de Estado com uma visão (?) particular do mundo e de sua pasta, foi o rapper quem arrancou aplausos da platéia. Discutia-se o papel da juventude, suas características, necessidades e o que o poder público deveria ou poderia fazer para contribuir na evolução dos jovens. Naturalmente, tudo tão carregado de pompa e circunstância quanto desprovido de conteúdo, dado que a "juventude" certamente se encontrava sub-representada no evento. A velha guarda política, boquirrota e prolixa, se apresentou em peso. A nova guarda política, sectária e vacilante, também se fez presente.
Disse, então, o rapper:
- Quem é o criminoso? O rapaz educado e branco, que pode inclusive ter estudado no-exterior, que entra no morro em sua Pajero para comprar droga ou o menino negro, analfabeto, que a vende? O menino não tem outra opção e pode não saber as consequências do que faz. Já o rapaz sabe muito bem o que está fazendo... Entretanto, se a polícia prender os dois, o primeiro será levado a um "centro de recuperação", sairá de lá em pouco tempo e continuará sua vida. O menino será atirado na cadeia, onde aprenderá mais sobre o crime. Se vocês me perguntassem, quem deveria ir para a prisão seria o primeiro.
Foi aplaudido.
Estranhamento ele era o único que vive a realidade de que se falava - tanto que criou uma associação para reunir as favelas do Rio. Provavelmente era o único que tinha algo interessante a dizer. Curiosamente era o único negro na mesa de "autoridades". E o único a quem foi lembrado o tempo de sua fala e a quem foi avisado de que seu tempo se esgotara. Típico...
2 - No good deed goes unpunished.
Em Porto Alegre, ao final da apresentação do relatório semestral, o grupo de Coordenadores havia preparado uma apresentação de um destes consultores doubles de animadores. Um lair ribeiro dos pampas ou algo assim. A idéia (dele) era passar alguns conceitos organizacionais, motivacionais e de vida, através de atividades espirituosas ou reflexivas. Profundo como um pires.
Em uma de suas falas, disse o consultor:
- Sabem qual o profissional que precisa ter mais fé?
- O padre? disse eu.
- Sim, mas não só ele. O profissional que precisa de mais fé é o trapezista.
Silêncio da audiência.
- Ele precisa se atirar, soltar o trapézio onde se encontra, e acreditar, ter fé, que uma pessoa que não está lá vai pegá-lo quando ele passar.
Comentários gerais de concordância ou divergência da audiência.
Mais algum tempo e o consultor resolve passar filmes a partir do notebook onde introduzira um CD ROM com pequenos vídeos. Feitas as conexões, somente o áudio funciona: o canhão projeta apenas uma tela preta. Chama-se a manutenção (que, como de praxe, leva uma eternidade) quando uma idéia me ocorre:
- Espere - digo, enquanto pego minha pasta e a coloco sobre a mesa.
- O que você vai fazer? pergunta o consultor.
- Providenciar a rede para o trapezista - minha resposta, enquanto tiro o meu notebook da pasta e começo a fazer a conexão com o canhão.
A audiência desaba de dar risada... (e eu que nem tinha a intenção de ser divertido...)
O "lair" fica muito feliz e prossegue sua atividade. Entretanto, nosso tempo era escasso, pois precisávamos pegar o avião de volta - tendo ele concluido ou não a sua fala. Dissemos que era possível ficar por mais meia hora, no máximo, pois perderíamos o vôo. O consultor, contudo, fazia pedidos que não podia deixar de atender sem ser indelicado e "esticava" com um "só mais este" e "este é o último" sem que nunca, realmente o fosse. Resultado: saímos com tanta pressa que deixei no auditório o livro autografado que ganhei de presente do diretor que nos convidara. Até agora, não recebi de volta. Mas isto é uma outra história.
3 - Cada um com a sua cruz: há vários modelos à escolha, de chumbo a isopor.
Pois não é que aceitaram o paper que mandei? Ora se não. E eu que botava tanta fé nisso quanto em que a monarquia viesse a ser restabelecida no último plebiscito (não obstante meu voto)... O caso é que no dia 07 de janeiro estarei na Pensilvânia apresentando os estudos preliminares de minha tese de doutorado, junto ao pessoal da ASSA/ITFA (Allied Social Sciences Association/International Trade and Finance Association).
O vôo é a coisa mais doida da paróquia, com troca de aeronaves e stops em vários aeroportos. E isso num período em que os vôos nos EUA são absolutamente caóticos - é o final dos season holidays. Enfim, vão ser dez dias de viagem, uma certa apreensão e meia volta ao mundo. Pelo menos deve render uma tonelada de frequent flyer miles... ou não. Não percam os próximos e emocionantes capítulos... :-)
The Lurker Says: Success is relative. It is what we can make of the mess we have made of things. (T.S. Eliot)
novembro 23, 2004
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